Em encontro inédito, Francisco recebe grande Imã de al-Azhar



23 maio, 2016


Audiência durou cerca de 25 minutos e terminou com um abraço entre os dois responsáveis

Da redação, com Rádio Vaticano

O Papa Francisco recebeu nesta segunda-feira, 23, o grande imã de al-Azhar (Egito), Ahmad Al-Tayeb, que lidera a mais importante instituição do Islão sunita, sediada no Cairo.

O encontro inédito durou cerca de 25 minutos e terminou com um abraço entre os dois responsáveis.

A iniciativa tinha sido antecipada pelo próprio Papa, em fevereiro, aos jornalistas que o acompanharam no avião no retorno de sua viagem ao México, para Roma.

“Eu quero encontrar-me com ele e sei que ele também gostaria, estamos procurando uma forma”, disse.  “Sei que vamos conseguir”, acrescentou.

Restabelecimento das relações

Em 2011, a instituição sunita tinha anunciado a suspensão dos encontros com o Vaticano após o que classificaram de “ataques” de Bento XVI contra o Islão.

Em causa estava a condenação pública, por parte do agora Papa emérito, de um atentado que vitimou 23 cristãos na cidade egípcia de Alexandria, a 1º de janeiro desse ano, para além das suas várias intervenções em favor da liberdade religiosa em países de maioria islâmica.

O restabelecimento das relações começou a ser preparado pelo secretário do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, Dom Miguel Ángel Ayuso, que visitou no último mês de fevereiro a Universidade de al-Azhar, onde foi recebido pelo braço direito de Ahmad Al-Tayyeb.

O representante da Santa Sé levou uma carta do presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, cardeal Jean-Louis Tauran.

Já a 10 de maio, o Papa Francisco enviou uma mensagem ao patriarca ortodoxo copta do Egito, Tawadros II, evocando a “grave situação” dos cristãos no Oriente Médio e norte de África.

Mas quem é Al-Tayeb?

Reitor da Universidade de Al-Azhar e Grão-Imame da Mesquista de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayeb é uma figura de grande relevância na jurisprudência islâmica sunita, cuja influencia é reconhecida em nível mundial.

Após obter o doutorado em filosofia islâmica na Universidade Sorbonne em Paris, ensinou em diversos países, entre eles a Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes Unidos, além de ter sido Diretor da Faculdade de Estudos Islâmicos de Assuam, Egito, e da Faculdade de Teologia da Universidade Islâmica Internacional de Islamabad, Paquistão.

Após servir como Grão-Mufti, em março de 2010 foi apontado reitor de Al-Azhar pelo então presidente Hosni Mubarak, depois da morte de Muhammad Sayyid Tantawi, seu predecessor.

Estudos islâmicos

Entre as universidades mais antigas do mundo, Al-Azhar representa uma verdadeira e própria instituição no pensamento e na educação islâmicos, assim como é o centro da jurisprudência islâmica sunita.

Al-Tayeb é considerado um entre os expoentes máximos do Islã sunita moderado, próximo à escola sufista.

Como reitor de Al-Azhar, decidiu introduzir os estudos das quatro escolas da ortodoxia islâmica sunita (hanafita, maliquita, chafita e hanbalita), enfatizando assim a importância de educar os estudantes à riqueza e à pluralidade do patrimônio islâmico.

Islã moderado

Ao longo da carreira acadêmica, mas de maneira particular depois da nomeação a reitor, Al-Tayeb, tem se esforçado para defender e promover uma versão tradicional do Islã que, ao mesmo tempo, englobe os princípios da modernidade.

Esta linha fez com que, frequentemente, Al-Tayeb se confrontasse sobretudo com a Irmandade Muçulmana e seu modelo de Islã como ideologia política.

Na verdade, desde quando foi designado pelo presidente Mubarak, Al-Tayeb já era conhecido no Egito por suas frequentes condenações ao islamismo radical e à Irmandade Muçulmana.

Mais tarde, durante a presidência de Morsi, após uma tentativa fracassada como mediador entre o governo da Irmandade, de um lado, e de outro, a oposição política, apoiou publicamente a repressão contra a Irmandade muçulmana, colocando-se ao lado dos militares durante a intervenção contra o presidente em julho de 2013.

Novas Regras

Al-Tayeb dispôs novas normas na Universidade que punem com a expulsão os estudantes que incitem ou se unam a movimentos radicais, declarando que a Universidade não seria terreno fértil para a Fraternidade desenvolver e difundir as próprias ideias políticas e religiosas.

Recentemente, Al-Tayeb fez declarações públicas contra o terrorismo do auto-proclamado Estado Islâmico (EI), recordando que o Islã é uma religião de paz, misericórdia e cooperação entre os povos, cuja imagem é severamente deturpada por interpretações de um Islã que é guerra e violência.

Propaganda extremista

No que diz respeito às sociedades muçulmanas, ao contrário, Al-Tayeb diz que devem se empenhar para contrastar a propaganda islâmica.

Para isso, devem utilizar as oportunidades oferecidas pelas modernas ferramentas de comunicação. Neste sentido, por exemplo, a Universidade de Al-Azhar está presente no Facebook e também inaugurou, há dois anos, um canal no YouTube em que, frequentemente, condena o terrorismo do EI.

Críticas

Al-Tayeb tem sido muitas vezes criticado em razão de suas posições duras e controversas. Observadores internacionais condenaram, por exemplo, a posição em relação a Israel, cuja tentativa de Al-Tayeb em justificar o antissemitismo com base no Alcorão encontrou forte oposição.

No que tange o diálogo inter-religioso, provocou discussões a decisão do Grande Imame em interromper as relações com a Santa Sé após as declarações de Bento XVI em que o Papa emérito afirmava que os cristãos no Oriente Médio eram perseguidos pelos muçulmanos.

Outros Encargos

Além das aulas em Al-Azhar e outras universidade internacionais, Al-Tayeb administra o Al-Azhar Education Network, uma rede que compreende 72 escolas para um total de quase 400 mil estudantes, além de outros 2 milhões de alunos que participam de atividades ligadas à Al-Azhar.

A atividade acadêmica do Grande-Imame se traduz em numerosas publicações científicas, nas quais aborda sobretudo a percepção da cultura e da filosofia islâmica no mundo ocidental.

Al-Tayeb é também membro da Sociedade Egípcia de Filosofia, da Suprema Corte para os negócios islâmicos e diretor da Comissão religiosa da TV e Rádio do Egito.

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