Vencer preconceito é fundamental para acolhida de refugiados, diz diretora do IMDH



21 junho, 2017


Instituição brasileira que acolhe refugiados destaca fraternidade como ponto de partida do acolhimento de migrantes e refugiados

Kelen Galvan
Da redação

Cerca de 65,6 milhões de pessoas no mundo foram forçadas a deixar seus países por diferentes tipos de conflitos / Foto: Montagem com Fotos ACNUR

Vencer o preconceito para com os refugiados é uma necessidade fundamental para que eles sejam de fato acolhidos aqui no Brasil, afirma a diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), Irmã Rosita Milesi.

Nesta terça-feira, 20, data em que o mundo recorda o Dia do Refugiado, a responsável pela instituição, que presta assistência integral aos migrantes e refugiados, destaca o crescimento no número de pessoas que pedem refúgio no país e motiva os brasileiros a evitar que cresçam atitudes contra a presença dos refugiados no Brasil.

Brasil é um dos países do mundo com menor índice de imigrantes e refugiados: menos de 1% da população brasileira, destaca diretora do IMDH, Irmã Rosita Milesi / Foto: Arquivo CNBB

“Esse é um ponto básico, fundamental, porque é uma atitude de agressão contra um irmão, que em momentos de necessidade busca nosso país. Lembrando que somos uma família e isso não é uma linguagem simplesmente de efeito, é uma realidade. O ser humano, como ponto de partida, é ser humano em qualquer parte do mundo. E acolhida fraterna é a primeira expressão que podemos esperar de seres humanos que recebem os seres humanos em situação de necessidade”.

O pedido vem ao encontro do estímulo feito hoje pelo Papa Francisco em seu twitter. O Pontífice destaca que “o encontro pessoal com os refugiados dissipa medos e ideologias distorcidas e torna-se fator de crescimento em humanidade”.

Dados do ACNUR

Segundo dados da Agência da ONU para Refugiados, o ACNUR, em 2016, cerca de 65,6 milhões de pessoas no mundo foram forçadas a deixar seus países por diferentes tipos de conflitos. Deste total, 2,8 milhões solicitaram refúgio em outros países.

Os números divulgados nesta segunda-feira, 19, também indicam o registro de de 9.689 refugiados no Brasil, um aumento de 826 pessoas em relação a 2015. Já o total de pedidos de refúgio passou de 28.670, em 2015, para 35.464, em 2016.

Segundo Irmã Rosita, o Brasil ainda é um dos países do mundo com menor índice de imigrantes e refugiados: menos de 1% da população brasileira.  “O que ocorre é que, o Brasil, pelo fato de serem imigrações mais recentes, não tem estruturas preparadas, não tem mecanismos e, às vezes, políticas suficientes para acolher esses refugiados que chegam”.

Novo fluxo migratório

Um novo fenômeno migratório que têm acontecido no Brasil é o número expressivo de venezuelanos que têm deixado seu país em função da grave crise política. Cerca de 12 mil atravessaram a fronteira brasileira e se concentram, principalmente, nos estados de Roraima e Amazonas. A maioria deles já apresentou a solicitação de refúgio.

No caso dos venezuelanos, se serão considerados refugiados ou migrantes, não é possível dar uma solução coletiva, porque há pessoas, já atendidas pelo IMDH, que têm argumentos de refúgio, devido a perseguições, e outras alegam a questão da fome e da falta de condições econômicas.

A Cáritas Brasileira lançou na última semana a Campanha #CoraçãoAberto, com o objetivo de sensibilizar a população brasileira quanto à assistência aos venezuelanos que cruzam as fronteiras do país, convocando todos à solidariedade e a colaborar com um plano de trabalho e ajuda financeira.

De acordo com levantamento realizado pelo Governo de Roraima, mais de 60% dos venezuelanos retornam para o país vizinho após a compra de gêneros básicos, como arroz, farinha, papel higiênico, entre outros. Entretanto, milhares permanecem em Boa Vista e Pacaraima, em Rondônia, e Manaus, no Amazonas.

Irmã Rosita destaca que a alta concentração no número de venezuelanos nesta região se deve ao desejo que a maioria têm de voltar ao seu país, na esperança de que tudo se estabilize em breve e possa voltar para casa.

Mercado de Trabalho

Irmã Rosita afirma maior desafio atual é referente à inserção dos migrantes e refugiados no mercado de trabalho / Foto: Arquivo IMDH

A religiosa destaca que até um ano e meio atrás era muito fácil encontrar trabalhos para os migrantes e refugiados, praticamente não havia desemprego entre eles. Porém, com o agravamento da crise no país, atualmente há uma grande dificuldade de inseri-los no mercado de trabalho.

“Eles não dependem de nós, buscam trabalho por conta própria, se deslocam, mas o IMDH e outras instituições que os atendem em várias regiões do país buscam também ajudá-los. Porém, posso dizer, que este é o maior desafio que estamos enfrentando hoje”, afirma irmã Rosita.

A religiosa afirma que a dificuldade têm provocado inclusive um novo processo de migração. Entre os haitianos, por exemplo, que migraram aos milhares para o Brasil nos últimos seis anos, muitos já migraram novamente, deixando o país em busca de melhores condições de vida.

“Os migrantes não têm aquela estrutura familiar e relações de comunidade, de sociedade, que os brasileiros têm, pelo fato de morarem na região. Eles são totalmente dependentes de terem um salário, não havendo esse recurso, eles não encontram um modo de sobrevivência e abrem novos processos migratórios, buscando novos lugares onde possam alimentar a esperança de um emprego”.

Nesse sentido, a responsável pelo IMDH faz o apelo à sociedade, para que possa apoiar os migrantes e refugiados. “Sempre fazemos apelos ao governo para implementação de politicas que ajudem na integração dessas pessoas. Não apenas receber, mas acolher”.

A religiosa conclui recordando uma recomendação do Papa Francisco de que os países, as comunidades e a Igreja tenham uma atitude de “acolhida, de proteção, de promoção e de integração”.

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